terça-feira, 1 de março de 2016

Seguidores da Bíblia e Manifesto Jesus Freak

Nunca pensei que escreveria sobre o Cristianismo aqui no blog. Não sou cristão, mas devo admitir que certamente tenho valores cristãos. Isto é: fui criado em família cristã, em uma sociedade - em geral - cristã, obviamente que acabaria por pautar meus valores no cristianismo.
O motivo de eu não ser cristão não é por raiva, ódio ou pensamentos opostos ao cristianismo. O motivo é apenas porque me tornei algo além do cristianismo. Minha consciência já abrange outras filosofias e doutrinas variadas. Dizer que sou cristão é limitar meu pensamento - embora não seja errado dizer que sou, pois de fato, uma parte de mim é cristã; assim como uma parte de mim é budista, satanista, hermetista e ateísta (variando de graus em graus).

Há ainda um outro motivo para não me declarar cristão: a palavra foi deturpada ao longo dos anos. Ser cristão virou sinônimo de "crente", ou de pessoas que vão à igreja, rezam com frequência e leem a bíblia. É óbvio que esse comportamento compõe todo o colorarium de ser cristão, mas é impossível resumir o cristianismo apenas nestes atos.
Ser cristão, em sua definição mais antiga e mais original é simplesmente seguir Cristo. O problema é que 'cristo' virou um grande negócio religioso, e o cristianismo perdeu seu total sentido ao longo do tempo.

Ora, Jesus Cristo era um homem como nós. Há quem diga que na verdade ele era um deus, ou por uma melhor definição, o filho do próprio Deus, ou simplesmente Um com Ele. Mas essa definição é religiosa, quero abordar aqui a definição histórica do homem.
Ele era um carpinteiro que viveu na região onde hoje é a palestina (e arredores). Olhando por um ponto de vista puramente humano, Jesus era um filósofo que foi contra as práticas religiosas de sua época (em geral as de Moisés e outras), criando uma filosofia de vida baseada simplesmente no amor à Deus e ao próximo, à caridade e à misericórdia. Por causa de suas idéias revolucionárias e à frente de seu tempo, Jesus foi morto por opositores às suas idéias. No entanto, muitos dos seus seguidores continuaram levando seus ensinamentos para outras partes do mundo conhecido, espalhando a 'boa nova'.
Só que tais homens - chamados de apóstolos - eram pescadores. E naquela época a educação era extremamente precária. A menos que Jesus tivesse um plano mirabolante e tivesse escolhido pescadores que sabiam ler e escrever, a história nos diz que o mais provável era que os apóstolos passaram Sua tradição por via oral.
E foi assim por cerca de setenta anos. O número de cristãos cresceu muito, e ainda mais. Há histórias de certos acontecimentos: é dito que cristãos eram mortos em coliseus, apenas por serem cristãos. Mais tais pessoas tinham a crença no paraíso, e de que depois de suas mortes seriam salvos. Tais homens não demonstravam medo frente ao perigo, se mantinham impassíveis. Tais homens eram mortos, mais sua coragem e sua fé ficavam, e as pessoas achavam muito estranho aquilo tudo.
"Como esses homens não tem medo de morrer?" "Seria o deus cristão o deus mais poderoso de todos?"

Essa certeza do paraíso fez com que o cristianismo só crescesse. Todos queriam ser cristãos, todos queriam ir ao tão famoso paraíso, todos queriam encarar a morte e não ter medo dela.
Não demorou para o cristianismo se tornar a religião mais popular. Tão popular que [supostamente] a esposa do imperador Constantino se converteu para a nova doutrina. O problema era que havia diversas tradições cristãs. Umas seguiam a tradição oral dita pelo apóstolo Matheus, outras pelo apóstolo Pedro... O imperador Constantino se viu confuso no meio de tantas vertentes. E foi aí que ele decidiu compilar todas as tradições em uma só bandeira [talvez por pressão de sua mulher, ou talvez por um motivo político]. Dalí em diante nasceria a Bíblia. E algum tempo depois nasceria a Igreja Católica, que pegaria a Bíblia para si e montaria a maior religião cristã do mundo!

Eis aí o problema.
A Igreja Católica Apostólica Romana começou a criar regras da maneira correta de como um cristão deveria ser, agir e fazer. Nasce os dogmas, e quem não os seguia, estava errado, e portanto não era um cristão verdadeiro. E assim seguiu a humanidade até os dias de hoje. Jesus, um revolucionário, um filósofo, que fez suas idéias em suas crenças, acabou por ser substituído por um modelo barato de si mesmo.
Houve até um certo momento em que a Igreja Católica cruzou espadas com os Cátaros - que eram cristãos também, mas não cristãos bíblicos, estes seguiam a tradição oral (a 'original'). Uma prova mais que concreta que a máxima de "amar o próximo" não era seguido mais.
Tudo porque focaram no fim da jornada, e não na jornada em si.
"O sábio aponta o dedo para a lua, mas o dedo não é a lua."

Para seguir uma filosofia de vida - como o cristianismo - é preciso esquecer o ponto final. É preciso viver cada segundo, respirar a filosofia, viver como se é pregado. As pessoas não seguem mais Cristo, pois sua tradição se "perdeu" na via oral. As pessoas seguem a Bíblia. Tudo é a bíblia. Bíblia pra lá, bíblia pra cá.

É verdade que a Bíblia contém a tradição oral de Jesus, mas a tradição de Jesus não é a Bíblia. O mapa não é o território. Há ainda na Bíblia coisas que Jesus discordava, e que pessoas hoje, declaradamente cristãs, vivem repetindo. Tais pessoas não são diferentes do imperador Constantino, que só é cristão porque todos são. Cadê a vivência, a experiência cristã e as suas práticas? Tudo se tornou vazio, como um livro de papel, chamado Bíblia, que foi criado por homens - ainda que contenham palavras divinas, a Bíblia foi criada por homens.

É justo seguir a Bíblia e não Jesus?
A tradição oral é demorada e passível de alterações. Mas a escrita também é - e a vantagem da oral é que ela pode ser passada apenas para aqueles que são capazes de viver seus ensinamentos. Eu sei que o objetivo é espalhar as idéias cristãs no mundo, e que sem tais idéias é possível que tivéssemos bem pior - mas um cristão pra mim só é aquele que segue Cristo, acima de tudo. Não a Bíblia. A Bíblia é um guia, mas quem caminha é você.

Para terminar deixo esse manifesto, de como poderia ser o cristianismo no novo século, com idéias que no mínimo iria melhorar muito a filosofia e vivência cristã:
(retirado do site mortesúbita.org)

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Nós propomos que, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, não nos deixemos limitar pela religião. Os primeiros inimigos de Cristo foram os altos sacerdotes do Templo. O primeiro amigo de Cristo foi um louco que gritava no deserto.
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Nós propomos que as Escrituras são a mais alta autoridade cristã. Portanto devemos nos esforçar para compreendê-las muito mais do que nos esforçamos para aceitar a forma que nossos ancestrais a compreenderam. O mundo dos homens muda a cada instante. O mundo de Deus permanece o mesmo para sempre.
3 -
 
Nós propomos que cada cristão tenha o mesmo credo essencial de Paulo de Tarso, Francisco de Assis, Martinho Lutero, William J. Seymour, Martin Luther King e ainda assim sejam livres para expressar sua fé de sua própria maneira especial, assim como o fez cada um destes cinco homens.
4 -
Nós propomos que ninguém tem o direito de dizer que uma pessoa não será salva em Cristo, uma vez que a hora cabe ao Pai e a salvação cabe ao Filho. Assim, ainda que o próximo viva em escândalo você não deve se escandalizar.
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Nós propomos que os livros de orações sejam deixados de lado por um tempo. Talvez seja difícil usufruir de nossa liberdade de expressão em um primeiro momento, mas seremos recompensados com uma relação mais intima e próxima com Deus. Por muito tempo temos usado de maneira pobre o nosso missal. É hora de orarmos mais e irmos menos à missa.
6 -
Nós propomos que devemos nos preservar um pouco dos hinários e livros de salmos. Eles são lindíssimos, mas nossa mente precisa respirar e perceber que está vivendo em uma época nova e radiante. Devemos compor novas músicas com novas letras, que sejam atuais e de acordo com nossa época. Não existe nenhum problema em cantar as glórias antigas, mas há uma infinidade de glórias novas aguardando e clamando para serem cantadas.
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Nós propomos nos libertarmos da arquitetura do passado criando novos espaços para nossos cultos. Derrubemos as igrejas e templos para não haver mais a separação entre irmãs e irmãos, entre crentes e ateus, entre humanos e resto da criação. Chamemos de volta a todo aquele que expulsamos de nossas igrejas: os infieis e os piores pecadores! A Casa de Deus não é uma casa de desespero. Chamemos todos de volta, ainda que continuem pecando para sempre.
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Nós propomos que descubramos como os avanços tecnológicos de nossa época podem ser usados para a glória de Deus. “Frutificai e multiplicai-vos” nunca foi um desejo ligado única e exclusivamente ao sexo. “Eis que saiu o semeador a semear” nunca foi restrito as praças públicas. Deus nos presenteou com tecnologias que nossos antepassados sequer sonharam poder existir. Está na hora de aceitarmos essa graça e fazer bom uso dela. Vamos organizar oficinas e mostrar como a arte e a ciência podem fazer parte de nossas festas e nossos exercicios de contemplação.
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Nós propomos o uso do intercâmbio cultural para enriquecer nossa literatura litúrgica com materiais até então ignorados por nossos cultos tradicionais. Há uma abundância de sabedoria e beleza nos textos considerados apócrifos pela igreja medieval, nas escrituras sagradas de outras crenças e mesmo na poesia secular que podem e devem ser usados em nossa liturgia para atingirmos um propósito estético superior ao atual.
10 -
Nós propomos que em um mundo dominado pela mídia onde o uso da imagem supera o do texto, os cristãos devam fazer uso das figuras mais fortes, corajosas e chocantes possíveis. O cinema, a televisão e mesmo intervenções urbanas devem ser usados. Não há lógica em mostrar o caminho, a verdade e a vida usando imagens piegas, meia luz e baixa resolução.


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